Falta de preparo médico para o diagnóstico de angioedema hereditário, bem como a indisponibilidade de medicamentos necessários para o seu controle, foram apontados como gargalos para a correta assistência aos pacientes que sofrem com a doença.
A
pedido do deputado estadual Antonio Carlos Arantes (PSDB), a Comissão de Saúde
da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) discutiu, na quinta-feira
(8/6/17), os entraves para o tratamento da doença, que tem assustado o
município de Bom Despacho (Centro-Oeste de Minas), em virtude do alto número de
casos registrados.
“Fui
procurado pelos nossos amigos e parceiros do município e pelo prefeito Fernando
Cabral. A situação é séria e vamos pessoalmente ao secretário de Saúde cobrar
do Estado as providências necessárias e urgentes”, afirmou Arantes. Segundo
ele, Bom Despacho está acima da média nacional e precisa de um tratamento
diferenciado por parte do Governo.
Bom
Despacho precisa de ambulatório especializado
O
surto da doença em Bom Despacho também foi abordado pela médica do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) Luciana Araújo
Oliveira Cunha. Conforme explicou, os pacientes da cidade fazem um
acompanhamento trimestral da doença no HC-UFMG, onde é oferecido apenas o atendimento
ambulatorial.
Nesse
sentido, ela defendeu a criação de um ambulatório especializado para o
tratamento de pacientes em crise no município, uma vez que ali há uma grande
concentração de pessoas com a doença. “Não dá tempo do paciente sair de Bom Despacho
em crise. Ele tem que ser atendido lá”, argumentou. Um centro de referência
ambulatorial também foi defendido pelo diretor administrativo da Santa Casa de
Bom Despacho, Henrique Andrade do Carmo.
Faltam
medicamentos
Apesar
de não ter cura, o angioedema hereditário pode ser controlado, desde que o
paciente seja corretamente diagnosticado e tenha acesso aos medicamentos
necessários. Entretanto, há cerca de um ano, o Danazol, principal remédio usado
no controle da doença e que é fornecido pelo SUS, deixou de ser fabricado. O
laboratório teria alegado falta de matéria-prima.
A
médica Luciana Cunha disse que, para que a doença seja controlada, o remédio
precisa ser tomado diariamente. Ela declarou que o medicamento profilático
reduz as possibilidades de crises e internações dos pacientes. “O risco de
óbito dos pacientes em crise é muito grande”, alertou. Segundo a médica,
existem dois medicamentos usados nas crises, mas eles não são fornecidos pelo
SUS em virtude do seu custo elevado, que varia de R$ 2 mil a R$ 7 mil a dose.
Para
o deputado, o Estado não faz a conta certa. “Um paciente desse, quando em
crise, fica na UTI por mais de uma semana e custa muito mais do que o remédio
adequado. Isso sem contar que estamos falando de vidas das pessoas, crianças
que enfrentam a doença. O Estado não pode se omitir. Nós vamos cobrar”,
garantiu Arantes.
Diagnóstico
difícil
De
acordo com a vice-presidente da Associação Brasileira de Portadores de
Angioedema Hereditário, Raquel de Oliveira Martins, embora a doença possa ser
diagnosticada de forma relativamente simples, pelo exame de sangue, ainda
faltam conhecimento e preparo médico para identificá-la.
Segundo
Raquel, a doença apresenta sintomas como inchaços, que podem ser visíveis
externamente e também afetar órgãos internos, provocando dores, náuseas, vômito
e diarreias. Por isso, ela pode ser confundida com outras doenças. “Os médicos
precisam conhecer esses sintomas e perceber que, se eles forem recorrentes, há
a possibilidade da doença. O angioedema não pode ser tratado como um processo
alérgico, uma virose, um problema gastrointestinal", afirmou. Raquel
explicou que falta capacitação porque as doenças raras são pouco conhecidas e
estudadas nas escolas de medicina.
A
associação contabiliza 1.400 pacientes diagnosticados com angioedema, mas
Raquel afirmou que esse número pode ser muito maior, por se tratar de uma
doença hereditária. “Cada um desses pacientes pode ter pelo menos mais um caso
na família”, alertou. Ela relatou que Minas Gerais é o terceiro estado com
maior número de casos diagnosticados no País.
Ao
final da audiência, Antonio Carlos agradeceu a presença e a participação de
todos e repetiu que a luta não terminou. “Nós vamos continuar em busca de todas
as melhorias possíveis para que esses pacientes tenham um tratamento digno e
ágil por parte do Estado. O nosso papel, como Legislativo, é o de cobrar e
fiscalizar. E faremos isso”, concluiu o deputado.
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