terça-feira, 13 de junho de 2017

A Folha Regional - Minas Gerais


Falta de preparo médico para o diagnóstico de angioedema hereditário, bem como a indisponibilidade de medicamentos necessários para o seu controle, foram apontados como gargalos para a correta assistência aos pacientes que sofrem com a doença.
A pedido do deputado estadual Antonio Carlos Arantes (PSDB), a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) discutiu, na quinta-feira (8/6/17), os entraves para o tratamento da doença, que tem assustado o município de Bom Despacho (Centro-Oeste de Minas), em virtude do alto número de casos registrados.
“Fui procurado pelos nossos amigos e parceiros do município e pelo prefeito Fernando Cabral. A situação é séria e vamos pessoalmente ao secretário de Saúde cobrar do Estado as providências necessárias e urgentes”, afirmou Arantes. Segundo ele, Bom Despacho está acima da média nacional e precisa de um tratamento diferenciado por parte do Governo.
Bom Despacho precisa de ambulatório especializado
O surto da doença em Bom Despacho também foi abordado pela médica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) Luciana Araújo Oliveira Cunha. Conforme explicou, os pacientes da cidade fazem um acompanhamento trimestral da doença no HC-UFMG, onde é oferecido apenas o atendimento ambulatorial.
Nesse sentido, ela defendeu a criação de um ambulatório especializado para o tratamento de pacientes em crise no município, uma vez que ali há uma grande concentração de pessoas com a doença. “Não dá tempo do paciente sair de Bom Despacho em crise. Ele tem que ser atendido lá”, argumentou. Um centro de referência ambulatorial também foi defendido pelo diretor administrativo da Santa Casa de Bom Despacho, Henrique Andrade do Carmo.
Faltam medicamentos
Apesar de não ter cura, o angioedema hereditário pode ser controlado, desde que o paciente seja corretamente diagnosticado e tenha acesso aos medicamentos necessários. Entretanto, há cerca de um ano, o Danazol, principal remédio usado no controle da doença e que é fornecido pelo SUS, deixou de ser fabricado. O laboratório teria alegado falta de matéria-prima.
A médica Luciana Cunha disse que, para que a doença seja controlada, o remédio precisa ser tomado diariamente. Ela declarou que o medicamento profilático reduz as possibilidades de crises e internações dos pacientes. “O risco de óbito dos pacientes em crise é muito grande”, alertou. Segundo a médica, existem dois medicamentos usados nas crises, mas eles não são fornecidos pelo SUS em virtude do seu custo elevado, que varia de R$ 2 mil a R$ 7 mil a dose.
Para o deputado, o Estado não faz a conta certa. “Um paciente desse, quando em crise, fica na UTI por mais de uma semana e custa muito mais do que o remédio adequado. Isso sem contar que estamos falando de vidas das pessoas, crianças que enfrentam a doença. O Estado não pode se omitir. Nós vamos cobrar”, garantiu Arantes.
Diagnóstico difícil
De acordo com a vice-presidente da Associação Brasileira de Portadores de Angioedema Hereditário, Raquel de Oliveira Martins, embora a doença possa ser diagnosticada de forma relativamente simples, pelo exame de sangue, ainda faltam conhecimento e preparo médico para identificá-la.
Segundo Raquel, a doença apresenta sintomas como inchaços, que podem ser visíveis externamente e também afetar órgãos internos, provocando dores, náuseas, vômito e diarreias. Por isso, ela pode ser confundida com outras doenças. “Os médicos precisam conhecer esses sintomas e perceber que, se eles forem recorrentes, há a possibilidade da doença. O angioedema não pode ser tratado como um processo alérgico, uma virose, um problema gastrointestinal", afirmou. Raquel explicou que falta capacitação porque as doenças raras são pouco conhecidas e estudadas nas escolas de medicina.
A associação contabiliza 1.400 pacientes diagnosticados com angioedema, mas Raquel afirmou que esse número pode ser muito maior, por se tratar de uma doença hereditária. “Cada um desses pacientes pode ter pelo menos mais um caso na família”, alertou. Ela relatou que Minas Gerais é o terceiro estado com maior número de casos diagnosticados no País.
Ao final da audiência, Antonio Carlos agradeceu a presença e a participação de todos e repetiu que a luta não terminou. “Nós vamos continuar em busca de todas as melhorias possíveis para que esses pacientes tenham um tratamento digno e ágil por parte do Estado. O nosso papel, como Legislativo, é o de cobrar e fiscalizar. E faremos isso”, concluiu o deputado.

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